17.1.07

Gaveta (parte I)


Alheia aos últimos acontecimentos, num momento de pura insônia, ela me viu pensando sobre o "seu humano", sim o "seu humano". Remexendo em suas gavetas empoeiradas encontrou uma reflexão escondida sob as peças remendadas e maltrapilhas, igualmente esquecidas, a qual denominou reflexão sobre a auto-sabotagem. Lembrei dos meus 16 anos, ou seria dos "nossos" dezesseis anos?

Então ela continua com sua empáfia racionalizada:

"_Algo tão inerente ao "seu humano"... Câncer geralmente negligenciado e corrosivo. Felizmente é corruptível como a maioria das coisas do "seu humano": basta saber com quanto e de que jeito se deve subornar (...) a si mesmo. O mundo se apresenta de acordo com a nossa capacidade perceptiva – que é ensinada à maioria dos homens (senão a todos). Significante e Significado, lembra?"

"_Verás o mundo como uma grande ruína improdutiva, ou um terreno de possibilidades de acordo com tua capacidade perceptiva acerca da paisagem. E diante disso a auto-sabotagem se torna minha, e por ser desnecessariamente minha, posso torna-la inútil..."

Fui reler Vygotsky.

Enfim, talvez ela, eu, nós duas, não consigamos nos manter num mesmo pólo a vida toda (o que é bom para fins de aprendizado), mas sempre teremos a chance de alterar o caminho se, no vazio, lembrarmos da existência de um extremo oposto.



"Pollyannice"?

Não, racionalidade.



*O "seu" de seu humano tem significado igual a "senhor" além do significado literal.