28.7.07

Casamento

Ontem percebi que não sou tão avessa a casamento quanto pensava.

27.7.07

Re-Descoberta


A serenata crepuscular anunciava o início do fim de mais uma jornada – em breve, pensava, encontrar-se-ia diante de seu momento mais frágil. Pelo caminho, grãos acinzentados insistiam em ruir do negro firmamento; já não era mais tão simples continuar a jornada. Estava cansada.

A vida jazia cada vez mais por entre os dedos, assim como a cômoda existência que há muito preservou. Não havia mais razão para seguir: agora, até o que julgara ser pele, o que julgara ser, desvendava-se num apinhado de tintas e lágrimas. Ela desmanchava. Ela escurecia. Ela renascia em si e aflorava. Outra vez.



A única configuração de suicídio louvável é aquela que proclama a morte da ignorância sobre si mesmo.

Apaixonem-se por si mesmos: (re)descubram-se. Parece difícil - como o cenário acima - mas vale a pena.

26.7.07

Maçãs Negras


Sonhei com o teu quintal

coberto de ramagens

ofertando maçãs negras

e de repente senti

o meu coração estrangeiro.

Longe do meu tempo

à revelia dos sonhos,

levei adiante o destino,

fui a Damasco e Chipre

'Sem chorar os mortos'.

Depois voltei sozinha

num barco de quilha azul

sobre águas de marfim

só para ver no inverno

rios chegarem ao mar.

Enfim, no longe surgiu

uma casa de teto alto

com muros rastejando

entre flores douradas:

era o pouso do acaso.

Só não fui ao teu quintal... tive medo.


(Deborah Brennand - Maçãs Negras)

Esse e muitos outros poemas podem ser vistos em http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/paglinks2.htm

22.7.07

O Grande Ditador




"_Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.


Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros?


Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.


Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido...


A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá...


Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"



(Trecho do último discurso de "O Grande Ditador" - Charles Chaplin)

15.7.07

Vaidade


Vaidade é o lema da vez.


Certas almas inteligentes são tão críticas acerca da própria conduta que não admitem críticas de quem quer que seja (salvo em raros casos). São seres com ótima capacidade de abstração, criatividade, argumentação, retórica, etc. Criaturas brilhantes eu diria.
Reconheço que se não encarnassem o "advogado do Diabo" seriam líderes perfeitos, verdadeiros exemplos de vida. Porém a vaidade é o lema da vez - e no caso em questão, esta se torna uma "pedra no meio do caminho".

Todos nós somos um pouco de tudo. Não é a ausência de um "pecado" que nos dá ânimo para criticá-lo, e sim sua escassa presença. A interpretação da sentença parece óbvia, certo? Acredite, não é tão evidente para todo mundo.

Ninguém está totalmente acima do bem e do mal como a maioria deveria supor. Acredito que todos nós possuímos bases tão benéficas quanto pervertidas em nossa formação de caráter. Contudo, trilhamos um caminho para preponderar uma dessas bases de acordo com o que julgamos melhor para nós. Estamos aqui para aprender com erros e acertos. E esse seria um fator comum se não houvesse uma restrição: essas pessoas.

Essas pessoas especiais não estão aqui para aprender nada que possamos ensinar. Tudo que elas aprendem provém de seus próprios ensinamentos. Elas se julgam auto-suficientes e um verdadeiro benefício para a humanidade. Não existe relação de troca com esses seres encantadores: eles ensinam, a gente escuta.

Talvez por ter essa grande responsabilidade social, falhar, independente da referência adotada, é um pecado inadmissível para os mesmos. E isso é levado tão a sério que pessoas assim optam por se enganar constantemente – além de tentar enganar os outros, claro.

Seus atos egoístas, por exemplo, passam a significar - na opinião deturpada deles claro - demonstrações de valor próprio, de caminho centrado, e até de altruísmo (?!). Críticas destrutivas e exigências desumanas tornam-se demonstrações de sinceridade, de espírito questionador, inteligência, vontade de ajudar o próximo a crescer, etc. Enfim, tudo é camuflado com a mais sutil licença poética.
Afinal de contas, eles são os melhores.

Esquecem que são seres humanos tão podres quanto nós. Emocionalmente instáveis, contraditórios, arredios, confusos e hipócritas como todos nós podemos ser, com uma diferença: eles nunca admitirão essas falhas - ou pelo menos, nunca admitirão como falhas.



"Vaidade... meu pecado favorito" . (O Advogado do Diabo)


12.7.07

Foucault

"É compreensível que alguns lastimem o vazio atual e busquem, na ordem das idéias, um pouco de monarquia. Mas aqueles que, pelo menos uma vez na própria vida, provaram um tom novo, uma nova maneira de olhar, um outro modo de fazer, aqueles, creio, nunca sentirão a necessidade de se lamentar porque o mundo é um erro, a história está farta de inexistências; é tempo para que os outros fiquem calados, permitindo assim que não se ouça mais o som da reprovação por parte deles..."

MICHEL FOUCAULT (Entrevista – 06/04/1980)

Poema

Foste minha
E como o vento
Tocas te e passaste
Desde esse dia
Persigo esse vento
Essa recordação
Tento sair deste vazio
Que não me deixa respirar
Sinto este rasgar no meu coração
Dor de sentir
Dor de pensar em ti
Ainda hoje sinto

Sinto esse vento em mim
Que me acariciava
E fazia sentir algo diferente
Único e nosso
De forma suave e sentida
Perfeita e bela
Esse vento em mim…
Em ti
Recordo essas carícias

E todo o seu esplendor
Sinto hoje
O que senti em dias passados
Nada mais do que
Um reflexo…
O reflexo de um eterno amor
Que passa hoje
Como uma brisa
Que passará amanha

(autor desconhecido)


É lindo, mas Deus me livre.
A combinação "amor e dor" me dá calafrios.
Já tive minha dose.

8.7.07

Vida

Seja o ourivez de sua própria vida.
Ou não seja.
Só saiba de uma coisa:
O mundo que você tanto respeita, não terá nada com isso.

Tristeza e alegria são contagiantes,
qual delas você escolhe para o momento?
Qual delas carregará para o resto da vida?
Qual merece tua atenção?
tristeza, alegria...
Escolha, é simples!
Mas saiba de uma coisa:
O mundo que você tanto teme, não terá nada com isso.

E por fim, dando ou não significado ao que acabo de redigir, saiba de uma coisa:
O mundo, continuará não tendo nada com tua vida.

Só existe uma pessoa que consegue alcançar
o exato valor que você atribui a determinados significados.
Apenas uma consegue rir ou chorar como você faria.
Adivinha quem?



Reflexão (outra)


Ainda dou crédito à pureza existente em determinados anseios e impressões, acredito no sentimento humano no fim das contas – e mesmo magoada, não tenho porque não acreditar. Isso é ser ingênua? Então sou ingênua.

Todo mundo chora e faz chorar um dia. Assumir uma posição de vítima só porque nesse exato momento fui eu a "penitenciada" não me faz uma pessoa digna de méritos. Que mérito há em sentir pena de si mesmo?

Não chame de racionalidade uma linha lógica covarde.
Isso não te fará uma pessoa melhor.
Somos todos poeira do mesmo barro esqueceu?

Levanta e anda pessoa, tem gente precisando de ti mais a frente.




Não existe uma razão direta para o tema em questão ou a maneira como o mesmo foi exposto. Simplesmente saiu e eu quis registrar - como geralmente acontece aqui. Ás vezes a vontade não precisa de entrelinhas.