24.8.07

O Conto - I parte

[Num café próximo...]


Com sofreguidão estava sua mão esquerda a tatear em busca de um lenço ou algo parecido. Não encontrou. Teria que embrenhar-se naquele entrave sem disfarce, concluiu. Era preciso sair da aglomeração antes que suas reservas desfalecessem.

Imersa em angústia, mal calcula o susto: eu estava a poucos metros, atônita, vendo tudo. Justo quem não deveria, quem jamais poderia - por ser uma das poucas pessoas que sabe, ainda, ler suas emoções - estava ali diante daqueles fortes olhos avermelhados – quase secos tamanha a determinação em não lacrimejar. Imagino o que se passou dentro daquele corpo naquele segundo.

Tomou a bolsa nas mãos como quem toma uma bóia no meio do oceano, cerrou os olhos, despediu-se de um amigo em comum que a acompanhava, pagou o café e saiu dissimulando altivez - exatamente nessa ordem.


[Uma última olhada em minha direção antes de deixar o espaço. Deu de ombros.]


Felipe, o amigo em comum, me arrancou do choque ao pousar a mão sobre meu braço – sequer percebi sua aproximação. Nos falamos brevemente, comprei meus cigarros e fui embora. Saí dali tão zonza que, acredito, devo ter sido guiada por forças maiores para não cair da passarela ou ser atropelada a caminho da faculdade. Estava absorta na primeira frase dita pelo moço:

_ “...Falávamos sobre você ainda a pouco”.



(...)