24.12.06

As vitrines



Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
-Dá tua mão
-Olha pra mim
-Não faz assim
-Não vai lá não

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Na galeria
Cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão


Sempre associei essa música a um pai que alerta sua filha acerca de uma realidade mundana lúdica, sedutora... pretenciosamente vazia, triste, perigosa... realidade desconhecida que ela está prestes a explorar - e ele nada poderá fazer a não ser observar em silêncio a relevância ou não do que explanou outrora. "Eu te avisei"... "era um vão"...